Na hora do adeus...
Por mais que tudo seja lógico e racional, o momento da despedida custa sempre. Por mais previsível que seja, o último adeus é terrível. Saber que nunca mais nos vamos ver, nos vamos abraçar, nos vamos ouvir, nos vamos olhar... custa horrores. A vida é um ciclo e a morte faz parte dela. Sei disso mas mesmo assim, e apesar de tudo, o peso no peito é fundo. Saber que ficam as saudades e que as saudades são tão tramadas, que ficam e apertam para sempre, custa ainda mais. Aparecem quando menos se espera, quando achamos que as lágrimas já foram todas. Teimam em espreitar quando algo familiar nos desperta uma lembrança, uma memória, um vislumbre de algo que vivemos e que guardámos no baú das recordações. Foram 95 anos de vida, 35 da minha, que a soube ali, por ali, sempre lúcida e perspicaz. Foi um privilégio conhece-la e tê-la por perto nestes últimos anos de vida, apresentar-lhe as minhas filhas e vê-la chorar de emoção sempre que lhes conhecia uma graça nova. Foi uma vida cheia, dura e com muitas provações, mãe de 9 filhos e viúva na flor da idade, mas com muitas bênçãos pelo meio, a maior de todas ter criado uma família gigante em tamanho e em coração. O último adeus custou a todos, filhos, genros, netos e bisnetos mas também aos muitos amigos que fizeram questão de marcar presença ou enviar mensagens de condolências, sublinhando sempre a boa pessoa que a minha querida avó foi em vida. E é essa vida que nos fica na morte. No dia em que tirámos a nossa última fotografia soube, senti bem lá no fundo, que seria a última e é assim, sem tirar nem pôr, que me vou lembrar para sempre de ti, querida Avó Luz.
Bem a propósito, hoje li uma notícia que diz que em Portugal se morre mal e eu tenho de concordar. Felizmente, no caso da minha avó, não sem afecto ou dedicação, mas também no caso da minha avó com total falta de sensibilidade por parte da equipa médica que a acompanhou nos últimos dias. Deram alta, para a "despacharem" - literalmente - mesmo sabendo que o seu estado de saúde estava debilitante e totalmente instável. Teve de ser reanimada, ao regressar ao hospital, após ter sido "recusada" pelo lar (onde era suposto entrar a partir do dia 1 de dezembro) pelo óbvio estado grave de saúde. Todos sabiam que a morte estava à espreita e mesmo assim - sobretudo por isso - não lhe garantiram as condições mínimas para uma morte tranquila e natural... felizmente, quero acreditar nisso, já não estava consciente, acabando por se cumprir o seu desejo de não acabar os seus dias num lar. Nossa Senhora acabou por lhe ouvir as orações... Paz à sua alma.
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