O cordão invisível

Elas crescem rápido, demasiado rápido.
Achamos que quando são bebés é que é difícil mas essa é só a melhor parte. Quando lhes pegamos e cabem no aconchego do colo, quando nos olham como se fossemos todo o mundo que importa, numa ligação de dependência total que nos absorve todas as energias mas que também nos dá a sensação de controlo total e absoluto. Mas à medida que vão crescendo vão também ganhando autonomia e se por um lado respiramos de alívio por outro sentimos que cada vez menos está ao nosso alcance conseguir protegê-los ou controlar o que quer que seja. Vão saindo do casulo, demonstrando traços de personalidade, vincando gostos e interesses e, aos poucos, vão precisando cada vez menos de colo. Deixamos o casulo para nos ligarmos com um fio invisível, que guia, que dá espaço, que liberta, que responsabiliza, que estica e encolhe à medida das situações e reacções.
É uma gestão dura para quem precisa de comandar este fio condutor, saber quando é preciso dar folga e quando é preciso apertar. Um exercício que se estende pela vida fora, em fases diferentes, umas mais intensas, outras mais relaxadas mas que está sempre lá, numa ligação que começa na barriga e que se estende para a vida toda.
Um desafio que é sem dúvida o maior da minha vida, no meu caso em dose dupla! Duas filhas que conseguem ser tão parecidas mas tão diferentes ao mesmo tempo. Saber gerir as suas particularidades nem sempre é fácil mas ter uma rede de apoio com quem posso sempre contar faz toda a diferença, na minha e na vida delas também. Sentir que crescem seguras e confiantes, com coragem para arriscar e para sair da zona de conforto deixa-me a rebentar de orgulho!
Parte pode ser mérito nosso (dos pais), que sempre promovemos as dormidas fora de casa, seja nos avós, nos tios ou mesmo em casa de amigos próximos, mas a grande vitória é delas! Terem não só a determinação do "ir" como a coragem para "ficar", resistir às saudades e à rotina que conhecem e que dominam. Esta capacidade de aproveitar as oportunidades e de as viver à séria deixa-me para lá de orgulhosa, chega a comover-me.
Que continuem sempre assim, que a vida vos continue a mostrar que sabe ser generosa com quem não tem medo de arriscar, com quem se dá aos outros com confiança e dedicação, com amor e entrega. Cá estarei para dar os empurrões que forem precisos, mesmo quando o coração fica apertadinho com a dor da separação. O nosso cordão pode ser invisível mas tem o dom de ser inquebrável, com uma elasticidade para ser testada pela vida fora. 
   

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