Desisti

Desisti do processo que tinha a correr desde 2015, relativo à compra do meu carro.
Desisti a 1 mês de nova data para julgamento, consciente de uma vitória certa.
Desisti ciente que ganhar seria pior do que desistir porque ficaria ainda mais "presa" neste processo que se arrasta há 3 anos.
Um processo que praticamente não começou porque entre o tempo que se demora a abri-lo e a espera que haja uma data concreta de uma audiência deu para tudo, inclusive para o stand conseguir arranjar forma de mudar o nome da sociedade e deixar uma empresa fantasma, de fachada a quem não posso pedir nada por ser certo nada vir a receber.
Desisti mesmo sabendo que o esquema de enganar clientes, com a venda de carros importados com km's adulterados, vai continuar a prosperar sem nenhuma consequência para quem faz disto vida.
Desisti porque continuar significava gastar mais dinheiro, em despesas de tribunal e honorários de advogado, para conseguir uma "vitória para emoldurar" nas palavras do meu advogado. Seria ouvir o juiz proferir sentença a meu favor, decretando a resolução do contrato, ou seja, devolver o carro e receber o dinheiro de volta. O problema é que sei que não vai haver forma de entregar o carro, a uma sociedade que simplesmente já não existe e menos ainda hipótese alguma de receber o dinheiro de volta, já que a sociedade que me vendeu o carro entretanto já não existe (mudou o nome do stand e a pessoa da gerência mas, pasme-se (ou talvez não...) está exatemente no mesmo lugar).
O resultado seria continuar com um processo por resolver e ficar, por tempo indeterminado, impossibilitada de vender o carro, e em rigor da lei deveria até guardá-lo mas não o utilizar como uma espécie de "fiel depositária" até conseguir fazer cumprir a sentença.
A questão, sendo o mais objectiva e pragmática possível, é que isso pode nunca vir a acontecer, seja por não ter a quem entregar o carro, seja porque mesmo havendo a quem entregar, esse alguém não terá interesse em devolver-me o dinheiro que paguei há 3 anos por um carro que entretanto continuou a desvalorizar. E é este o maior problema de qualquer negócio de carros, a pessoa sabe logo à partida que nunca vai "investir" num carro porque a partir do momento em que sai do stand o carro perde valor. Mas, hoje mais do que nunca, não dá para viver sem ter carro! Faz parte de todas as rotinas, é o meio de transporte que garante a deslocação casa-escola, casa-trabalho, casa-compras, casa-férias, casa-médicos e todas as demais deslocações que fazem parte do dia-a-dia.
Após 3 anos de muita frustração, tempo perdido, muitos nervos e desgaste, depois de um julgamento cancelado à entrada da sala de audiência por desistência do advogado deles, mais 1 ano inteiro de tentativas do tribunal conseguir simplesmente citar a ordem para constituição de novo advogado e sobretudo depois de conhecer outros casos como o nosso que depois de terem sido "ganhos" ficaram piores, com mais burocracia e outro processo pendente por tempo indeterminado... tomámos por isso a decisão de pôr o ponto final neste assunto.
Fomos enganados, perdemos tempo e muito dinheiro, tentámos resolver, fomos à luta, procurámos justiça mas percebemos que ganhar uma batalha não basta para vencer uma guerra. Ficam várias lições desta experiência, a maior delas, a que mais me magoa, sentir que a justiça no nosso país é assim: tarda e falha.

Nota: no meio desta confusão toda há coisas boas, uma delas ter conhecido pessoas impecáveis e super prestáveis na Renault Melo Falcão, que desde o 1.º momento se dispuseram a ajudar-nos com todo o processo, inclusive com disponibilidade para serem testemunhas oficiais no processo. Prova de que ainda há gente boa por aí, solidárias e prestáveis.
A outra coisa boa foi termos acesso ao histórico completo do carro (pagando, claro... para prova base no processo) mas que ajudou muito a deixar-nos mais descansados por saber que teve só 1 proprietário, que sempre foi assistido na marca mesmo no país de origem, com folha de revisões que o comprova e que mesmo com km's a mais está impecável. Por força do processo, mantivemos todas as revisões na marca o que acaba por garantir uma folha regular e verdadeira de toda a história do carro.
Por último, e não mesmo importante, é que gosto mesmo do carro, da condução, do espaço, do conforto e que finalmente, passados 3 anos, posso sentir o carro como meu. Agora livre para fazer o que entender, onde entender, como e quando entender!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Parkinson's In Mind: o testemunho

De que cor é um beijinho?

É por estas e por outras...