Queridos, construímos uma casa

Na arrumação de uns ficheiros dei com a foto do projecto da nossa casa, um desenho que o arquitecto fez para nos convencer de que a casa construída há mais de 30 anos e nunca habitada tinha potencial. Eu sempre tive, e continuo a ter, uma dificuldade extrema para imaginar espaços diferentes daquilo que os meus olhos vêm. Olhar para uma casa abandonada, para divisões inacabadas e em tijolo assustou-me desde início mas como o milagre da modificação tinha acontecido com a casa do caseiro, que também estava fechada e a precisar de muitas melhorias quando percebemos que a "casa nova" nunca estaria pronta quando casássemos, abracei o desafio cheia de coragem e por saber que não estava sozinha. 
Começando pelo início, quando pensámos em comprar casa, já a mana Andreia tinha o seu T1 mas que começava a ser pequeno para o crescimento iminente da família. Surgiu então a ideia de retomarmos o sonho dos nossos pais e terminar a casa que começaram a construir mas que, voltas da vida, acabou por não ser nunca a sua morada. Surgiu outra oportunidade com o terreno mesmo ao lado da casa onde sempre vivemos e pela proximidade mudaram-se os planos e, claro está, o investimento. A casa nova, como sempre lhe chamámos, era usada apenas como armazém sem nunca ter sido acabada. Começou por ser 1 andar mas com o crescimento da família e com a força de braços dos meus pais, com muita ajuda do Tio Henrique que também cedo veio para Lisboa e que sempre se manteve por perto, foi depois acrescentado mais 1 piso mas que acabou por ficar pelos alicerces sem acabamentos de maior. A vida foi passando, os planos mudando e a casa acabou por ficar fechada mas nunca vendida. O meu pai, apesar de algumas ofertas que surgiram, nunca se quis desfazer do seu grande investimento que representava muito mais do que dinheiro. Aquela casa era (e continua a ser por mais anos que passem) o símbolo da independência, da emancipação, do quanto conseguiu por si, a pulso e fruto exclusivo do seu trabalho. Por sabermos deste valor acima do patrimonial, decidimos dar seguimento a este sonho e terminarmos nós a obra. Como se recebêssemos mais do que uma herança, antes a passagem de testemunho dos nossos pais. Foi a nossa vez de começar a vida e de sermos nós, também a pulso, a conseguir seguir em frente e a fazer mais e melhor.
Foram anos, 4 anos de obras intensas e mais outros tantos para acabamentos (que na verdade nunca acabam!) para que o processo finalmente ficasse concluído, com emissão de licença de habitação final apenas em 2015. Foram praticamente 10 anos a trocar correspondência com a Câmara Municipal de Sintra, com idas frequentes à conservatória e às finanças, já para não falar das contas infindáveis entre técnico/arquitecto, documentação, obras, materiais, mão-de-obra e tudo o que implica a construção do que quer que seja. Foram anos de luta, de muito trabalho, de dedicação, de esforço, de investimento mas que valeram a pena.
Hoje, quando olho para a nossa casa, sinto orgulho do que vejo. Se o tempo voltasse atrás, voltaria a preferir seguir este caminho a ter comprado um apartamento pronto, chave na mão. Faria escolhas diferentes, mudaria algumas coisas que agora, com o passar dos anos e das vivências, sei que funcionariam melhor. Sei agora que a expressão que diz que no fim das obras é que se está pronto para as começar tem de facto uma razão de ser. Mas ainda assim, orgulho-me de todo o percurso que fizemos, que continuamos a fazer, para ter o que temos hoje. Foi - e continua a ser - um trabalho de equipa, de muita interajuda mas que tem funcionado. Um amigo muito especial para todos nós disse-me uma vez, quando estava eu a esfregar o chão de tacos da casa do caseiro já com vontade de chorar do cansaço, que essa entrega, esse esforço é que no fim valia a pena e hoje, mesmo já não estando entre nós, reconheço o quanto tinha razão. Sem esforço, sem entrega, sem dedicação, sem amor, nada se consegue. Já quando temos a sorte de ter isto tudo e em dobro... tudo acontece, tudo se torna possível.


Temos hoje o nosso terraço das festas, sempre pronto para receber família e amigos, 
e são esses momentos que compensam tudo. 


Isto tudo para dizer, que sinto muito orgulho pela herança que recebi, da família a que pertenço e a que escolhi para mim. E que reconheço que só valorizamos aquilo que implica trabalho - árduo - da nossa parte. São estas as conquistas que valem a pena assinalar. 

Comentários

Sandra disse…
Maninha que orgulho, na família que Deus nos deu. Os pais são uns verdadeiros heróis, trabalharam muito, tanto que falado parece pouco... O tio Henrique, que bom teres falado dele, foi um tio muito presente e sempre muito especial para nós. Obrigada maninha... Adorei!

Quanto ao... apartamento!? Troca-va contigo, va, um mês só para me dizeres se não valeu a pena o esforço. Como costumo dizer, só o guerreiro merece descanso, neste caso são os Vaz e os Guerreiros 😉...

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