Associativismo parental

Assim que a Constança entrou na escola pública quis saber como fazer parte da Associação de Pais. Para mim é tão normal como fazer a inscrição, tão natural como saber os contactos da escola e os horários de atendimento da professora. Se sou mãe, encarregada de educação, é meu dever, minha obrigação acompanhar os problemas da escola que escolhi para as minhas filhas. Esse foi o exemplo que tive em casa, com a minha mãe a fazer parte da Associação de Pais da escola que frequentámos, numa altura em que tudo faltava, em que era preciso ir a pé para a escola, com rios de lama no inverno o que nos obrigava a ir de botas de borracha nos pés, com uns sapatos na mochila para trocar na entrada da escola. Lembro-me da minha mãe ser entrevistada para a televisão, o que há cerca de 30 anos era um verdadeiro fenómeno, enquanto membro da AP de Casal de Cambra, a defender melhores condições e mais recursos, numa luta para que o "maior bairro clandestino da Europa" ganhasse acessibilidades básicas, como arruamentos e esgotos. Foi graças ao seu empenho, e aos de outros pais/mães como ela, que se conseguiu construir uma escola nova que as minhas irmãs estrearam e que eu, o meu irmão depois de mim e o hoje o meu sobrinho frequenta. A prova de que não é preciso ter "estudos" para se ter uma vida activa na cidadania, menos ainda ser-se Dr. para saber defender os interesses dos filhos. O importante, há 30 anos como hoje, é querer saber. Querer saber que escola frequentam os filhos, conhecer as pessoas que nela trabalham, que condições têm, o que se pode melhorar e o que está ainda por fazer. Mas hoje, apesar de termos muito mais recursos à disposição, mais formação, outra disponibilidade financeira, até grupos de "mães" que nas redes sociais tudo sabem... apesar disto tudo a verdade é que hoje o espírito de associativismo parental é menor do que há 30 anos. Esta semana houve assembleia geral, divulgada com a devida antecedência, e foram apenas 2 mães que compareceram para além dos membros da AP, duplicando ainda assim o número de participantes da 1.ª Assembleia Geral a que fui, onde acabei "recrutada" pelas forças da circunstâncias. Há quem acredite que isto só pode ser "bom sinal", sintoma de que está tudo bem na escola, que se houvessem problemas sérios aí os pais em peso apareciam. A mim não me convencem... não aparecem porque na verdade não querem saber. Preferem criticar só porque sim, como aliás tem estado na ordem do dia, sendo os incêndios só mais um exemplo disso. Críticas sem conhecimento de causa, comentários depreciativos de quem desconhece a realidade, de quem nunca se deu ao trabalho de tentar perceber a origem dos problemas, menos ainda de encontrar/procurar soluções. O associativismo parental, como a cidadania em geral, sofre de um problema crónico que se chama ignorância - seja por desconhecimento de causa, seja pela inércia de fazer em vez de criticar, seja pelo egoísmo de quem acredita que há sempre quem faça por si, seja pelo alter-ego de quem se convence que apontar problemas sem procurar soluções resolve alguma coisa.
Não espero conseguir resolver os problemas do mundo mas se conseguir que a Escola que as minhas filhas frequentam seja uma Escola melhor, fico feliz.


Obrigada a todos os elementos da Associação de Pais da Escola Quinta da Condessa, por me fazerem sentir parte da equipa desde o 1.º momento, aquele em que pensei ir assistir a uma assembleia geral, aberta a todos os pais e encarregados de educação de uma escola com cerca de 200 alunos, mas na qual apenas apareci eu. Obrigada em especial à Susana Martins que me foi contagiando com a energia de quem defende os interesses dos alunos - de todos os alunos - como se dos seus filhos se tratasse, pela determinação em ser justa e pela luta feroz em conquistar uma escola onde os alunos sejam acima de tudo felizes. Espero estar à altura das expectativas...

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