A Constança nos Escuteiros

Demorei a escrever sobre este tema por vários motivos, mas o principal, admito, deveu-se à superação do meu estado de choque. Precisei, e vou continuar a precisar, de tempo para assimilar e saber lidar com o (inesperado e surpreendente) pedido da Constança para fazer parte dos Escuteiros. Depois de uma ida à missa, igual a tantas outras, perguntou-me porque havia meninos e meninas vestidos de forma diferente. Expliquei, em traços muito gerais que são um grupo que tem como objectivo ajudar os outros e que tem uma relação muito próxima com a natureza. Não consegui acrescentar mais do que isso, por desconhecimento de causa, confiante de que essa breve descrição bastaria para responder a uma simples e natural curiosidade. Mas eis que as perguntas continuaram, revelando não curiosidade mas antes interesse pelo que decidi passar logo para as questões práticas, acreditando que mataria ali o assunto: acampamentos e saídas que fazem em grupos com muitos meninos e meninas que não conheces (recorrendo ao tom e olhar de "mete-medo"); vão acampar, no meio do mato, da lama, dos animais e isso tudo sem os pais, imagina?! (usando o tom e expressões faciais de "mete-nojo"); têm regras e tarefas que têm mesmo de cumprir (com o ar mais sério do mundo). Não estava, de todo, preparada para a reacção da Constança, com os olhos a brilhar à medida que me ia ouvindo falar, em completo e crescente entusiasmo que me deixou perplexa. Pensando que só podia ter achado graça às minhas explicações e que o entusiasmo seria passageiro, deixei passar uns dias, na vã esperança de ter sido fogo de vista mas de interesse passou a pedido - verbalizou: "mãe eu quero MESMO ir para os escuteiros" e nesse momento percebi que a ideia estava instalada na cabeça da Constança - qual Carneiro que depois de tomar uma decisão, a torna uma verdadeira missão de vida!
Comecei então os contactos para perceber com quem falar para saber mais, para conhecer as dinâmicas e o projecto da nossa comunidade. Valeram-me os conhecimentos de paroquiana assídua (muito obrigada querida Mónica Matos!) e de um dia para o outro conseguimos entrevista com as Chefes dos Lobitos. Uma formalidade que junta pais e "aspirante" para que os chefes expliquem a história e missão do Escutismo, assim como a dinâmica e organização do Agrupamento e do Bando. Fiquei impressionada com o entusiasmo, verdadeiramente contagiante, com que nos explicaram tudo e na forma como conheceram a Constança. Com calma, com tempo, sem pressão, com linguagem simples e clara. Uma reunião informal mas personalizada, que demonstra que no escutismo todos podem entrar mas cada um é único, sendo respeitada a sua individualidade, com a atribuição de responsabilidades em função das diferentes personalidades e capacidades.  Outro objectivo é perceber quem realmente quer entrar nos escuteiros - pais ou criança. Foi um momento surreal... por um lado nunca me tinha imaginado a acompanhar a Constança - logo a Constança! - numa entrevista para os escuteiros e, por outro, pela postura, tímida mas a responder segura (num fio de voz) que a ideia tinha sido dela, que queria ajudar os outros e ter missões na natureza, a afirmar que não tinha medo de nenhum bicho (quando se pêla de medo na presença de um cão!) tal a vontade de abraçar este desafio. Tão focada estava que quando lhe lançaram a pergunta rasteira, "então e achas que nos escuteiros também se brinca?" ficou com um ar super sério, procurou o nosso olhar em busca de ajuda na resposta, cheia de dúvidas se entre a missão de ajudar os outros e a da natureza daria tempo para brincar?! Não sabia se ria ou chorava... acabei por ter de disfarçar a lágrima de emoção, por vê-la tão empenhada, tão motivada em algo que  despertou dentro dela, como um clique ou um chamamento que me ultrapassou por completo. Senti um aperto no peito, na garganta, no corpo todo, que não consigo explicar... por não ter previsto este interesse, por nunca me ter passado pela cabeça que a Constança - a minha Constança - sentisse este apelo. É certo que ainda é cedo, que está agora na fase da descoberta e da novidade - estamos todos ainda a assimilar o que esta decisão implica (leia-se a logística e o compromisso que obriga!) - mas a verdade é que, à medida que vamos sabendo mais sobre o escutismo, as peças se vão encaixando. Vê-la chegar do 1.º encontro de olhos brilhantes de entusiasmo, ouvi-la falar dos planos da sua "alcateia" e do seu papel no "bando", na alegria da escolha de um totem (teve de escolher um animal mais pequeno que o lobo - o chefe da alcateia - e tendo sido a última a entrar no bando... digamos que foi uma  escolha demorada e difícil!) tem sido uma descoberta incrível! Em todos os sentidos, tanto pelo conhecimento do que é de facto o escutismo - sem dúvida uma forma de estar na vida, como pelo despertar dos interesses e motivações da Constança. 
Engraçado que só me lembrei depois que as suas madrinhas, tanto a Ana Marta como a Inês, foram escuteiras desde a idade da Constança até bem crescidas!!! O que só me faz acreditar que nada nesta vida acontece por acaso.
Que esta seja uma desafiante e longa caminhada, minha querida aspirante a Lobito! 


Comentários

Sandra disse…
Confesso que ainda estou surpreendida pela escolha de algo que nunca tivemos acesso. Os objetivos são muito valorosos e sugerem crescimento de corpo e alma, deve fazer bem! Venham eles, os "sempre alerta!" 😅

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