No dia dos Mortos...
Partilho um texto magnífico no qual me revejo totalmente. Os meus mortos continuam muito vivos para mim - e é assim que tem de ser.
"Nunca me despedi completamente: o amor não deixa…
Quem ama pode ausentar-se, boiar por uns tempos na neblina e no silêncio, ou acampar provisoriamente no deserto. Mas despedir-se…
Quem ama é incapaz de se despedir completamente. Por isso diz «Volto já», «É por pouco tempo», «O tempo passa depressa», «Vou escrever ou telefonar centenas de vezes ao dia», «Vou estar sempre a pensar em ti».
Às vezes parece que pelo menos a faca da morte corta tudo o que se teve ou viveu. Mas não. A morte apenas separa, não mata.
Lavo-me, por isso, na água da saudade e da espera; procuro vozes e risos que guardei intactos; aspiro o perfume do vapor onde ferveram conversas e sonhos; aconchego-me a uma camisola sem corpo, como se nela habitassem ainda os braços que me abraçaram.
Estão tão vivos os meus mortos!... "
(Padre João Aguiar Campos)
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