Faço parte dos 19%
A notícia diz, e mostra com dados estatísticos, que "Quando a mãe tem a 4.ª classe, só 19% das crianças têm um percurso limpo na escola". Concordo que os níveis de rendimento e escolaridade do agregado familiar tenham peso no sucesso escolar dos filhos, mas não é só isso. A educação que se recebe também conta muito. E quando falo em educação refiro-me aos valores, ao tempo para acompanhar, ao exemplo de quem muito trabalha para conseguir ter uma vida com o mínimo de condições e por isso sabe o quanto estudar pode fazer a diferença para se sonhar com uma vida melhor (o que infelizmente nos dias de hoje nem sequer é uma certeza, mas que ajuda muito, quero acreditar!). Este foi o exemplo que recebi dos meus pais que apenas com a 4.ª classe, tudo fizeram para que os filhos fossem o mais longe que quisessem. Quando sentiram que não conseguiam ajudar, procuraram soluções: depois do 1.º ciclo eu e as minhas irmãs fomos para um colégio interno em Lisboa, para termos acesso a escolas melhores e a um acompanhamento diário que ia não só do apoio ao estudo, como à aprendizagem de tarefas domésticas, seja coser, bordar, limpar ou de conhecimentos tão úteis como o saber organizar o tempo livre, ter método de estudo ou as regras de etiqueta, seja à mesa, seja numa apresentação, seja o saber falar e, acima de tudo, o saber ouvir. Se foi fácil para os meus pais ou para nós ir a casa só aos fins de semana? Vejo hoje, sobretudo depois de ser mãe, que deve ter sido bem mais difícil para eles, que tiveram a capacidade e o altruísmo de pôr sentimentos de lado para nos conseguirem dar o melhor dentro das suas possibilidades, do que para nós, que fomos juntas e nos tínhamos umas às outras. Já na altura, e apesar da nossa tenra idade, sabíamos que era o melhor para nós e por isso aceitámos esta mudança como algo positivo, apesar das saudades que todas as noites sentíamos dos nossos pais, da nossa cama, das nossas coisas, sabíamos que era por nós, pelo nosso futuro. Também hoje reconhecemos que foi a melhor decisão, não só pelo nosso percurso académico e profissional, mas sobretudo porque recebemos bases fundamentais que nos ajudaram a crescer, a perceber que para ter o que for não basta querer. Há que lutar, há que aprender, há que dar um passo de cada vez para se chegar onde se quer e acreditar que chegamos lá. Nós acreditámos.
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